Fortalecendo o Anarquismo no Nordeste, relato do Mini tour subversivo da Cordel

Entre os dias 19 a 28 de agosto a Cordel Anarquista viajou para Recife (PE) e Natal (RN) com o objetivo de fortalecer as movimentações anarquistas nesses territórios, dessa forma somou com individualidades e coletivos para organizar atividades de formação e propaganda anarquista.

Nessas duas cidades a Cordel organizou a 13º e 14º Banquinha Anarquista a Propriedade é um Roubo, um projeto que tem como objetivo divulgar e distribuir gratuitamente materiais anarquistas (zines, jornais, revistas), principalmente para pessoas que não conhecem o anarquismo, a maior parte das edições desse projeto ocorreram em $alvador (BA) entre os anos 2013 e 2014, mas que a Cordel a partir de 2015 começou a fazer de forma itinerante.

Juntamente com a Banquinha também houve o Lançamento dos Zines Cordel Anarquista e Bruxas Anarkas acompanhado de uma roda de conversa sobre as temáticas dos zines.

Outra atividade que foi feita nesses lugares devido ao contexto político que estamos vivendo foi o Lambe e a panfletagem do “Voto Nulo ou Não Vote – Organize-se e Lute”.

Nessas duas cidades fomos bem acolhidxs, em Recife pelo Coletivo Dhuzati e em Natal por outrxs compas anarquistas que temos bastante carinho e pudemos fortalecer-se mutuamente, nutrindo relações que vão muito além do capital, mas de solidariedade e luta.

Recife: Sarau do Bosque edições Histéricas

Contextualizando: O Sarau do Bosque já existe alguns anos na UFRPE [Universidade Federal Rural de Pernambuco], onde é organizado em sua maioria por homens e que em suas poesias objetificam as mulheres, reforçando opressões que combatemos ferozmente em nosso cotidiano, sendo assim, as monas, as manas e as minas de Recife, tomaram de assalto o evento e o espaço do Sarau, construindo assim a edição Histéricas.

Esse evento teve os seguintes objetivos: escrachar os machos, denunciar a perseguição da universidade com xs trabalhadorxs ambulantes e a população pobre que mora entorno da universidade e somar força.

No Sarau rolou debates, oficinas de zine e serigrafia, apresentação de dança afro, brechó, pirofagia, intervenções teatrais, banquinha anarquista e poesias disparadoras de gritos, de desabafos, e de liberdade.

A Cordel Anarquista esteve presente no evento organizando duas atividades, a 13ª Banquinha Anarquista: A Propriedade é um Roubo juntamente com o lançamento dos zines Cordel Anarquista e Bruxas Anarkas, e também com uma roda de conversa sobre as temáticas dos zines.

Mesmo não estando em um evento anarquista percebemos que as pessoas que estiveram presente tanto na banquinha e na roda de conversa demonstraram uma curiosidade sobre os temas, foi interessante porque acabou sendo um espaço de propagação de ideias, reflexões e vivências anarkas.

O que mais marcou esse Sarau do Bosque Edição Histéricas, foi o posicionamento e ação racha macho, a cada início e fechamento das oficinas/debates, se liam (as vezes em jogral) o porque daquele evento e a lista dos machos que não eram bem vindos, e o ato de gritar os nomes desses machos em grupo, com pessoas dissidentes, acredito que marcou muita gente.

Nós da Cordel também fechamos com a organização, ou seja, que macho nenhum daquela lista iriam participar de qualquer evento do Sarau, então também não poderiam pegar nenhum material em nossa banca, caso eles tivessem a ousadia de colar nas atividades do Sarau.

Recife: Cine Rua Escura, pelo Coletivo Periféricas

No Sarau do Bosque também tivemos o prazer de conhecer algumas mulheres do Coletivo Periféricas (um coletivo formado por mulheres negras, da periferia de Recife, do bairro Ibura r11), e que no Sarau facilitaram uma roda de conversa sobre a hiperssexualização da mulher na literatura, como também uma apresentação de dança afro de uma pré-adolescente empoderadíssima. No Sarau elas fizeram um convite para o evento que elas estavam organizando em sua comunidade (Cine Rua Escura).

Fomos para esse evento em seis pessoas, somar nessa luta feita por feministas negras, periféricas e com um posicionamento bem crítico em relação a partido.

Como já tínhamos como ação política fazer a divulgação do “vote nulo ou não vote”, por meio do lambe, apresentamos esse material para o coletivo para saber se elas concordavam em fazer os lambes, aquela velha história de saber entrar e sair dos lugares que podemos e desejamos construir algo. Não só aceitaram como também fez daquela proposta de ação tornar parte do evento, isso nos gerou muita animação, em perceber a abertura delas por ideias anarkas. A reflexão que fizemos foi de que não devemos ter medo de p ropor uma proposta anarka em qualquer lugar que nossos pés pisam.

Desejamos vida longa ao coletivo periféricas!!!

Natal: Feirinha de Materiais Anarquistas

No dia 26 de agosto Rolou a Feirinha de Materiais Anarquistas em Natal e iniciou no final de tarde em uma praça bem conhecida a Praça Vermelha, foi uma parceria entre a Cordel Anarquista e individualidades anarquistas que tem organizado outras atividades durantes os últimos anos em Natal (Rupturas Libertárias, Mostra de Filmes Punks e Anarquistas, etc).

No evento rolou escambo de Materiais (zines, livros e vinis), atividade prática com as crianças (oficina de massinha com farinha de trigo), Rango Vegano, lançamento e roda de conversa sobre os zines Cordel Anarquista e Bruxas Anarkas, além da 14º Banquinha Anarquista – A Propriedade é um Roubo. Antes da Feirinha fizemos uma pequena panfletagem no centro da cidade do Vote Nulo ou Não Vote, e percebemos que se houvesse maior debate sobre o boicote as eleições teria uma adesão gigante. Durante a semana também colamos lambes no centro da cidade em companhia de um compa de Natal.

Foi muito bom reencontrar companheirxs de luta que mesmo com todas as dificuldades da nossa cena ainda continuam fortalecendo a luta Ácrata, e também conhecer pessoas novas que faz com que nossa esperança esteja sempre viva.

Obstáculos a serem ultrapassados

Em anos anteriores a Cordel já havia participado de atividades nessas duas cidades (2013- Feira Libertária – Recife, 2013/2014/2015 -Rupturas Libertárias – Natal), e o que avaliamos é que nesses últimos anos principalmente após diversos casos de machismo dentro de coletivos e entre individualidades anarquistas, percebemos que está havendo um afastamento das pessoas não só da cena, mas do anarquismo, associando o machismo a ideologia anarquista, e essa realidade não é somente em Recife e Natal, mas está acontecendo em diversos lugares. O maior empoder amento das mulheres e o enfrentamento ao machismo que deveria ser cada vez mais fortalecido em nossa cena, tem sofrido uma grande resistência por parte daquelxs que são o foco das críticas, os homens, e essa falta de autocrítica tem afastado de nosso movimento todxs que são xs que mais sofrem com o machismo, as mulheres, pessoas trans, gays, queer e outros corpos não normativos. É necessário que todxs nós ampliemos esse debate/desconstrução não somente para as reuniões e assembleias mas para o nosso cotidiano, e tal como o capitalismo e o Estado que o machismo também seja repudiado em nossos discursos e práticas.

Seguimos construindo e fortalecendo redes Anárquicas!!!

Fonte, mais fotos: https://cordelanarquista.milharal.org/fortalecendo-o-anarquismo-no-nordeste/