Fogo na mata

*-4-8-1

legendas: areas da mata que estao dentro do “parque”, cercas do mesmo…

o fogo na mata consome pipa todos os dias. espanta seus animais. transforma sua gente. modifica permanentemente sua imagem. nao mais a vida crescente e fertil das guabirabas, angelicas e cajaranas com que fartura crescemos e melamos a boca. nao mais a forca do pau-ferro para construir nossas casas seguras. agora o cimento impera, vindo de longe, petrotransportado. muros secos e quentes sobem cada vez mais alto, como se tivessem tambem vida. sem notarmos as milhares de outras mortes, de conhecimentos ancestrais, de arvores milenares, modos de vida sustentaveis.

os cajus, cansados e tristes, na ultima safra sofreram da doenca da praga branca e nem apareceram. sem conseguir disfarcar sua escassez, nessa estacao vem bem pouquinhos, durando apenas um mes.

mas o fogo… ah o fogo brilha toda a noite… misto de ancestralidade e estranhamento, um sinal de que o ser humano ainda nao se compreende parte desta natureza, que suas culturas devem se adaptar a esse tempo de escassez, para conseguir supera-la… compreende sim a faisca do vil metal, em detrimento de suas proprias historias e modos de viver. brilha como um sinal de fumaca aos colonizadores: continuem chegando, estamos aqui! a sua colonizacao ainda perdura, especulativa e derradeira.

nao mais o fogo dos rituais noturnos da danca, diurno dos rocados. o fogo que consome pipa nao provoca mais inter-dependencia, e sim uma submissao a todo um esquema de expropriacao de suas riquezas, para outrem, alem-mar. um modo de vida bem diferente. ou nao… ja que nos habituamos a ve-lo pela tv.

uma empresa que vai ganhar consumindo nossa natureza para produzir a energia artificial, que lhe vendera, junto a tantas outras bugigangas petro-eletricas. outro politico que trai sua propria comunidade com o impossivel insensato “progresso”.

para longe de si…

de suas mangabas, gameleiras e cipos. nossa mais profunda e – viva! – historia. sua agonia, deve nos fazer mais fortes para iniciarmos o longo tranalho de re-plantarmos o mundo.