12 de outubro de 2015, ano 523 da resistência indígena continental

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5 gerações passadas. tataravôs herdeirxs. na ilha Guanahaní, hoje Bahamas, desembarcam os três navios de cristovão colombo patrocinados pela monarquia dos reis católicos da espanha. é o início da devastadora invasão européia no continente de abya yala, pachamama, mãe terra, quantos nomes haveriam! o “descobrimento” da américa foi a invenção de um povo único onde co:existiam sistemas cooperativos de apoio mútuo, rituais de cura, de controle da violência, de manejo sustentável de suas vidas, conhecimento sobre complexos sistemas de habitação e alimentação, valorização da oralidade, a excelência dos mais velhos, respeito à muitas espécies de vida. 12 mil anos de tradições únicas e insubistituíveis sobre seu entorno, seus corpos, natureza e modos de vida.

pensar nisso 523 anos depois, em meio aos destroços da bucanagem, é caminhar para a descolonialidade de nossos povos Americanos. re:escrevendo a história com subcalendários que contam as estratégias de sobrevivência e de resistência destes povos des-locados, as rebeliões que protagonizamos, todxs misturados, da cabanagem, revolução paulista de 24, guerra dos mascates, revolução dos alfaiates, revolução pernambucana, sabinada, balaiada, guerra dos farrapos, insurreição praiera, guerra do paraguai, revolução federalista de 1893 a 1895, canudos, revolta da vacina, revolta da chibata, guerra do contestado, revolução de juazeiro, revolta dos tenentes, cangaço, revolução do rio grande do sul, revolução sul rio grandense, revolução paulista de 1924, revolução de 1930, revolução de 1932, golpe militar de 1964, guerrilha do araguaia e quilombos, assim como as consequentes tragédias de tracunhaém, cunhaú, candelária, eldorado, camarazal, o genocídio atual dos guarani-kaiowá, disputas por território que até hoje nos afetam.

há alguns anos o povo Aymara declarou o dia 12 de Outubro como “dia da desgraça”. outros povos indígenas confirmam este sentimento, declarando que o colonialismo não acabou com as mais do que legítimas aspirações à livre determinação dos povos d/neste continente, alguns deles milenares e com uma civilização e cultura cósmica. e assim, de 12 a 16 de outubro se dá a Mobilização global em Defesa da Mãe Terra e dos Povos que procura a pluralidade através da oferta de uma alternativa de vida frente à civilização da morte, com princípios e práticas de equilíbrio entre os homens, as mulheres, Mãe Terra, espiritualidades, culturas e povos, denominada de Bom Viver / Viver Bem.

aqui no Brasil o 12 de outubro transmutou-se radicalmente em dia das crianças, feriado nacional, com uma publicidade capitalista incessante destinada às futuras gerações: seu brinquedo em 10 vezes sem juros, ruidosos televisores como babás (o brasil é o único país no mundo onde suas crianças assistem mais de 4 horas diárias de Tv), brotando radiação e tendinite. é também dia santificado, em homenagem à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil (além do dia do cirurgião pediátrico). no entanto, em muitos países da América além de formalmente ser o dia da Hispanidade – México, Guatemala, El Salvador, Nicaragua, Honduras, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, Cuba, República Dominicana, Colômbia, Venezuela, Equador, Chile, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e Guiné Equatorial – nas ruas de todo o continente adquire nomes como Dia da Invasão, Dia da Raça ou Dia do encontro dos dois mundos, e quando a rotina é irrompida por protestos contra o início do genocídio. diversas manifestações marcam a cada ano um novo ciclo de lutas. e mesmo assim, por séculos, prevalece a visão dos vencedores e a justificação da ocupação e submissão das populações nativas sob o nome “civilizatório”.

por tudo isso é que a data de 12 de Outubro deve ser um dia para recordar sobretudo a resistência indígena, a sua luta pelo reconhecimento de suas identidades e formas de vida, sua autodeterminação e sua luta para a retomada de seus territórios e subjetividades. da selva lacandona às margens do rio são francisco. a cultura consumista não é brasileira, foi importada à chibatadas e acordos brancos. mas hoje, dia 12, em todo o continente americano, xs índixs levantam a sua voz para tomar nas suas mãos a história. solidariedade com todos os povos deste continente, que há 523 anos, cotidianamente, sofrem violações de todo o tipo, físicas e culturais. que toda a tragédia por que passaram e passam fortaleça ainda mais a mémória de todas xs índixs exterminadxs. /somos todxs índixs.

* “A contratiempo (Carabelas de Colón)”con letra de Agustín García Calvo y música de Chicho Sánchez Ferlosio. Su tema es el descubrimiento de América, y se dirige a las carabelas de Colón, animándolas a que vuelvan hacia atrás, a que desanden el camino andado y a que dejen América sin descubrir y el mundo nuevo, que de nuevo no va a tener nada una vez descubierto.

Carabelas de Colón,
Todavía estáis a tiempo:
Antes que el día os coja,
Virad en redondo presto,

Tirad de escotas y velas,
Pegadle al timón un vuelco,
Y de cara a la mañana
Desandad el derrotero,

Atrás, a contratiempo.

Mirad que ya os lo aviso,
Mirad que os lo prevengo,
Que vais a dar con un mundo
Que se llama el Mundo Nuevo,

Que va a hacer redondo el mundo,
Como manda Ptolomeo
Para que girando siga
Desde lo mismo a lo mesmo.

Atrás, a contratiempo!

Por delante de la costa
Cuelga un muro de silencio:
Si lo rompéis, chocaréis
Con terremotos de hierro

Agua irisada de grasas
Y rompeolas de huesos;
De fruta de cabecitas
Veréis los árboles llenos,

Atrás, a contratiempo!

¡A orza, a orza, palomas!
Huid a vela y a remo:
El mundo que vais a hacer,
Más os valiera no verlo,

Hay montes de cartón-piedra
Ríos calientes de sebo,
Arañas de veinte codos,
Sierpes que vomitan fuego.

Atrás, a contratiempo!

Llueve azufre y llueve tinta
Sobre selvas de cemento;
Chillan colgados en jaulas
Crías de monos sin pelo, Pelo;

Los indios pata-de-goma
Vistiendo chapa de acero,
Por caminos de betún
Ruedan rápidos y serios.

Atrás, a contratiempo!

Por las calles trepidantes
Ruge el león del desierto;
Por bóvedas de luz blanca
Revuelan pájaros ciegos Ciegos;

Hay un plátano gigante
En medio del cementerio,
Que echa por hojas papeles
Marcados de cifra y sello.

Atrás, a contratiempo!

Sobre pirámides rotas
Alzan altares de hielo,
Y adoran un dios de plomo
De dientes de oro negros, Negros;

Con sacrificios humanos
Aplacan al Dios del Miedo
Corazoncitos azules
Sacan vivos de los pechos.

Atrás a contratiempo!

Trazan a tiros los barrios,
A escuadra parten los pueblos;
Se juntan para estar solos,
Se mueven para estar quietos, Quietos;

Al avanzar a la muerte
Allí lo llaman progreso;
Por túneles y cañones
Sopla enloquecido el Tiempo.

Atrás, a contratiempo!

Por eso, carabelitas
Oíd, si podéis, consejo:
No hagáis historia; que sólo
Lo que está escrito está hecho, Hecho

Con rumbo al sol que os nace,
Id el mapa recogiendo;
Por el Mar de los Sargazos
Tornad a Palos, el puerto,

Atrás, a contratiempo!

Monjitas arrepentidas,
Entrad en el astillero;
Os desguacen armadores,
Os coman salitre y muergos, Muergos,

Dormid de velas caídas
Al son de los salineros
Y un día, de peregrinas,
Id a la sierra subiendo,

Atrás, a contratiempo

Volved en Sierra de Gata
A crecer pinos y abetos,
Criar hojas y resina
Y hacerles burla a los vientos,Vientos,

Allí el aire huele a vida;
Se siente rodar el cielo;
Y en las noches de verano
Se oyen suspiros y besos.

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