Semana pela Soberania Audiovisual Pipa

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EM HOMENAGEM A ÍNDIA TAPUIA LUISA CANTOFA

A semana acontecerá em dias e locais distribuídos: dia 9 em Natal, dias 18, 19 e 20 em Pipa, (data a se confirmar em Sibaúma), com mostras de filmes e rodas de conversa que foram selecionados dialogando com as temáticas propostas.

A Semana pela Soberania Audiovisual é um encontro latinoamericano para troca de experiências e vivências audiovisuais em sedes descentralizadas, que inclui atividades paralelas de formação audiovisual, criações coletivas, transmissões de rádio popular e video, conversas e intervenções gráficas na cidade.

É uma mostra multi localizada que se realiza através de um esforço coletivo em vários países. Neste ano ela será realizada em setembro na Argentina, Bolivia, Colombia, Costa Rica, México e Peru e em novembro no Brasil e no Equador; com o propósito de tecer uma rede latino americana, compartilhar olhares diversos, alcançar maior acesso ao cinema em bairros periféricos e zonas rurais e (nos) oferecer alternativas a exibição e difusão convencional, que promovam a circulação de conteúdos alternativos e inter culturais, a partir da criação de espaços de reflexão e diálogo.

É um espaço que combina distintas linguagens, plataformas e materiais que giram ao redor da linguagem audiovisual e cinematográfica, convoca obras de todas as procedências, enfatizando realizações comunitárias urbanas, rurais e produzidas pelos povos originários da América Latina que projetam uma imagem própria, a todas as visões que não encontram espaço na rede de distribuição e exibição comercial.

Surgido a convite do coletivo da Semana pela Soberania Audiovisual do Rio de Janeiro, e como vinhamos desenvolvendo ações em audiovisual com crianças, aceitamos o convite de se fazer de forma colaborativa, reconhecendo a importância do audiovisual na formação critica das pessoas e também partindo de uma demanda da cidade de Pipa de ocupar o espaço público da Praça do Pescador com arte.

O objetivo é o de fortalecer a identidade, revelar seus personagens, ampliar os sentidos, por a diálogo e estimular a transversalidade de linguagens artísticas como o côco de Zambê, a Capoeira, assim como seus registros, suas histórias de resistência.

– Soberania Audiovisual –

O audiovisual é uma ferramenta potente de produção de memória coletiva, por isso na Semana Pela Soberania Audiovisual damos destaque para filmes que não circulam nos grandes festivais ou emissoras, seja por sua ‘condição’ técnica e financeira, seja por sua proposta política. Filmes realizados no contexto de resistências populares, organizações comunitárias, coletivos independentes, com diversos tipos de câmera e narrativas, que utilizam a linguagem do audiovisual para fortalecer suas comunidades e despertar consciência coletiva para as violações decorrentes do atual modelo “desenvolvimentista”.

Neste sentido, em sintonia com os 9 países da América Latina e Caribe que também estão realizando suas semanas, temos aqui na região do Rio Grande do Norte (Pipa, Tibau do Sul, Sibaúma e Natal) algumas categorias que relacionam o fazer audiovisual a urgência das lutas sociais locais

1- Cultura, Identidade e Memória
2- Resistências Indígenas
3- Autonomias
4- Especulação Imobiliária
5- Soberania Alimentar

Sendo a Semana do RN uma ação sobretudo espontânea e reconfigurativa, tentamos acomodar o maior número de sugestões de filmes possíveis, mas é vertiginosa a produção independente, os campos de luta e resistência. Optamos portanto em procurar exibir prioritariamente filmes produzidos sobre a região de Pipa, Sibaúma, Cabeceiras, Catu, Natal, muitos registros feitos por elas mesmas, conectá-las caracolicamente ao Quilombo de Minas, a Permangola baiana, a luta Munduruku, alguns filmes enviados pra convocatória do Rio de Janeiro, dentro das temáticas que escolhemos abordar, e de parceiros com quem colaboramos.

Para sugestões de filmes, envie link para o email.

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– Pré-evento de lançamento da Semana em Natal –

 

Em Natal será a abertura da Semana, na segunda dia 9 de Novembro no auditório do Centro de Ciências Sociais da UFRN (NEPSA), em Natal, com o lançamento potiguar do filme “Mundurukânia, na Beira da História“, de Miguel Viveiros de Castro e roda de conversa com a presença do diretor e o professor Rômulo Angélico, pesquisador das tribos indígenas e tapuias do RN.

 

 

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– Semana pela Soberania Audiovisual da Pipa –

 

Em Pipa acontecerão as Mostras de Filmes e Rodas de Conversa, nos dias 18, 19 e 20 de Novembro, na Praça do Pescador e outros locais a confirmar. Haverá exibição de filmes seguido de rodas de conversa, Feira de orgânicos, Dança contemporânea, Bazar, Capoeira, Zambê, Música, etc.


Programação em fase de tecetura!

 
 
 

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Participe!
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Toques & Cantares

Este CD faz um mapeamento sonoro da praia de Tibau do Sul-RN, com os seus cocos-de-roda, cantar de farinhada, jornada da lapinha, jornadas de pastoril, cantares de excelência, toada de bois-de-reis e bambelô. Conta com participações especiais de Dominguinhos, Gereba, Elomar Figueira, Mônica Salmaso, Carlos Zens, Mestre Cobrinha, Naná Vasconcelos, Walter Franco, Ná Ozzetti, Isaque Galvão, Xangai e Renato Braz, entre outros grandes nomes da MPB.

Projeto Nação Potiguar

https://www.youtube.com/watch?v=c3MPL7av704

HortA

dia12pipa


Venha!

12 de outubro de 2015, ano 523 da resistência indígena continental

*

5 gerações passadas. tataravôs herdeirxs. na ilha Guanahaní, hoje Bahamas, desembarcam os três navios de cristovão colombo patrocinados pela monarquia dos reis católicos da espanha. é o início da devastadora invasão européia no continente de abya yala, pachamama, mãe terra, quantos nomes haveriam! o “descobrimento” da américa foi a invenção de um povo único onde co:existiam sistemas cooperativos de apoio mútuo, rituais de cura, de controle da violência, de manejo sustentável de suas vidas, conhecimento sobre complexos sistemas de habitação e alimentação, valorização da oralidade, a excelência dos mais velhos, respeito à muitas espécies de vida. 12 mil anos de tradições únicas e insubistituíveis sobre seu entorno, seus corpos, natureza e modos de vida.

pensar nisso 523 anos depois, em meio aos destroços da bucanagem, é caminhar para a descolonialidade de nossos povos Americanos. re:escrevendo a história com subcalendários que contam as estratégias de sobrevivência e de resistência destes povos des-locados, as rebeliões que protagonizamos, todxs misturados, da cabanagem, revolução paulista de 24, guerra dos mascates, revolução dos alfaiates, revolução pernambucana, sabinada, balaiada, guerra dos farrapos, insurreição praiera, guerra do paraguai, revolução federalista de 1893 a 1895, canudos, revolta da vacina, revolta da chibata, guerra do contestado, revolução de juazeiro, revolta dos tenentes, cangaço, revolução do rio grande do sul, revolução sul rio grandense, revolução paulista de 1924, revolução de 1930, revolução de 1932, golpe militar de 1964, guerrilha do araguaia e quilombos, assim como as consequentes tragédias de tracunhaém, cunhaú, candelária, eldorado, camarazal, o genocídio atual dos guarani-kaiowá, disputas por território que até hoje nos afetam.

há alguns anos o povo Aymara declarou o dia 12 de Outubro como “dia da desgraça”. outros povos indígenas confirmam este sentimento, declarando que o colonialismo não acabou com as mais do que legítimas aspirações à livre determinação dos povos d/neste continente, alguns deles milenares e com uma civilização e cultura cósmica. e assim, de 12 a 16 de outubro se dá a Mobilização global em Defesa da Mãe Terra e dos Povos que procura a pluralidade através da oferta de uma alternativa de vida frente à civilização da morte, com princípios e práticas de equilíbrio entre os homens, as mulheres, Mãe Terra, espiritualidades, culturas e povos, denominada de Bom Viver / Viver Bem.

aqui no Brasil o 12 de outubro transmutou-se radicalmente em dia das crianças, feriado nacional, com uma publicidade capitalista incessante destinada às futuras gerações: seu brinquedo em 10 vezes sem juros, ruidosos televisores como babás (o brasil é o único país no mundo onde suas crianças assistem mais de 4 horas diárias de Tv), brotando radiação e tendinite. é também dia santificado, em homenagem à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil (além do dia do cirurgião pediátrico). no entanto, em muitos países da América além de formalmente ser o dia da Hispanidade – México, Guatemala, El Salvador, Nicaragua, Honduras, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, Cuba, República Dominicana, Colômbia, Venezuela, Equador, Chile, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e Guiné Equatorial – nas ruas de todo o continente adquire nomes como Dia da Invasão, Dia da Raça ou Dia do encontro dos dois mundos, e quando a rotina é irrompida por protestos contra o início do genocídio. diversas manifestações marcam a cada ano um novo ciclo de lutas. e mesmo assim, por séculos, prevalece a visão dos vencedores e a justificação da ocupação e submissão das populações nativas sob o nome “civilizatório”.

por tudo isso é que a data de 12 de Outubro deve ser um dia para recordar sobretudo a resistência indígena, a sua luta pelo reconhecimento de suas identidades e formas de vida, sua autodeterminação e sua luta para a retomada de seus territórios e subjetividades. da selva lacandona às margens do rio são francisco. a cultura consumista não é brasileira, foi importada à chibatadas e acordos brancos. mas hoje, dia 12, em todo o continente americano, xs índixs levantam a sua voz para tomar nas suas mãos a história. solidariedade com todos os povos deste continente, que há 523 anos, cotidianamente, sofrem violações de todo o tipo, físicas e culturais. que toda a tragédia por que passaram e passam fortaleça ainda mais a mémória de todas xs índixs exterminadxs. /somos todxs índixs.

* “A contratiempo (Carabelas de Colón)”con letra de Agustín García Calvo y música de Chicho Sánchez Ferlosio. Su tema es el descubrimiento de América, y se dirige a las carabelas de Colón, animándolas a que vuelvan hacia atrás, a que desanden el camino andado y a que dejen América sin descubrir y el mundo nuevo, que de nuevo no va a tener nada una vez descubierto.

Carabelas de Colón,
Todavía estáis a tiempo:
Antes que el día os coja,
Virad en redondo presto,

Tirad de escotas y velas,
Pegadle al timón un vuelco,
Y de cara a la mañana
Desandad el derrotero,

Atrás, a contratiempo.

Mirad que ya os lo aviso,
Mirad que os lo prevengo,
Que vais a dar con un mundo
Que se llama el Mundo Nuevo,

Que va a hacer redondo el mundo,
Como manda Ptolomeo
Para que girando siga
Desde lo mismo a lo mesmo.

Atrás, a contratiempo!

Por delante de la costa
Cuelga un muro de silencio:
Si lo rompéis, chocaréis
Con terremotos de hierro

Agua irisada de grasas
Y rompeolas de huesos;
De fruta de cabecitas
Veréis los árboles llenos,

Atrás, a contratiempo!

¡A orza, a orza, palomas!
Huid a vela y a remo:
El mundo que vais a hacer,
Más os valiera no verlo,

Hay montes de cartón-piedra
Ríos calientes de sebo,
Arañas de veinte codos,
Sierpes que vomitan fuego.

Atrás, a contratiempo!

Llueve azufre y llueve tinta
Sobre selvas de cemento;
Chillan colgados en jaulas
Crías de monos sin pelo, Pelo;

Los indios pata-de-goma
Vistiendo chapa de acero,
Por caminos de betún
Ruedan rápidos y serios.

Atrás, a contratiempo!

Por las calles trepidantes
Ruge el león del desierto;
Por bóvedas de luz blanca
Revuelan pájaros ciegos Ciegos;

Hay un plátano gigante
En medio del cementerio,
Que echa por hojas papeles
Marcados de cifra y sello.

Atrás, a contratiempo!

Sobre pirámides rotas
Alzan altares de hielo,
Y adoran un dios de plomo
De dientes de oro negros, Negros;

Con sacrificios humanos
Aplacan al Dios del Miedo
Corazoncitos azules
Sacan vivos de los pechos.

Atrás a contratiempo!

Trazan a tiros los barrios,
A escuadra parten los pueblos;
Se juntan para estar solos,
Se mueven para estar quietos, Quietos;

Al avanzar a la muerte
Allí lo llaman progreso;
Por túneles y cañones
Sopla enloquecido el Tiempo.

Atrás, a contratiempo!

Por eso, carabelitas
Oíd, si podéis, consejo:
No hagáis historia; que sólo
Lo que está escrito está hecho, Hecho

Con rumbo al sol que os nace,
Id el mapa recogiendo;
Por el Mar de los Sargazos
Tornad a Palos, el puerto,

Atrás, a contratiempo!

Monjitas arrepentidas,
Entrad en el astillero;
Os desguacen armadores,
Os coman salitre y muergos, Muergos,

Dormid de velas caídas
Al son de los salineros
Y un día, de peregrinas,
Id a la sierra subiendo,

Atrás, a contratiempo

Volved en Sierra de Gata
A crecer pinos y abetos,
Criar hojas y resina
Y hacerles burla a los vientos,Vientos,

Allí el aire huele a vida;
Se siente rodar el cielo;
Y en las noches de verano
Se oyen suspiros y besos.

http://culturayanarquismo.blogspot.com.br/2015/10/a-contratiempo-carabelas-de-colon.html

Despachos da Muralha, episódio 1: Pasto e soja

– Querendo dizer – disse Maiara, apontando para o mapa – que esses reinos são todos uma fachada. Estão conjuminados.

– Estão em guerra, você quer dizer – disse o italiano. Tocou por um instante a ilha no centro do mapa, depois fez com que o dedo des­li­zasse do sul para o noroeste. – A Resi­dên­cia em Vazília jurou proteger os índios e outros guardiões da Muralha, mas é há trinta anos que o Império Gaúcho está invadindo e dila­pi­dando a Muralha com a coni­vên­cia da União.

– Que ninguém faz nada só comprova o que eu estou dizendo – disse Maiara, que estava nua para disfarçar o fato de que estava usando a ocasião para despejar uma enorme quan­ti­dade de infor­ma­ção. – Não se pro­nun­ciam nem os Estados de que se poderia esperar algum apoio, tipo o Serestão no nordeste ou o prin­ci­pado da Guanabara.

– Você acredita mesmo – o italiano passou o dedo pelas costas da mulher – que o Sacro­con­do­mí­nio está em con­ju­mi­nân­cia com o Império Gaúcho?

– Disso não tenho dúvida – ela disse. – Não entendo os detalhes mas tem de ser. Esta semana o cardeal paulista Voto­ran­tim e o imperador gaúcho se encon­tra­ram com a Resi­dên­cia em Vazília. Ofi­ci­al­mente foi um jogo amistoso, mas ninguém ignora que dis­cu­ti­ram modos de acelerar a tomada da Muralha.

Estavam os dois nus num terraço da favela do Vidigal, espar­ra­ma­dos em esteiras, lam­bu­za­dos de protetor e bebendo cai­pi­ri­nha. O italiano não tinha qualquer intenção de encurtar aquela conversa, por isso não é sempre que fazia questão de entender. Ele pegou e folheou o dossiê que ela tinha lhe passado.

– O cardeal Voto­ran­tim… Emílio Voto­ran­tim, certo? Da Federação das Indús­trias da Sacra Igreja Neoliberal?

– Ele mesmo.

– Mas não faz sentido – ele largou o dossiê e sem se levantar virou muito deli­be­ra­da­mente o corpo de modo a ficar de frente. O italiano era careca e atar­ra­cado, mas tinha também o seu público. – Vamos pensar no Império Gaúcho. Que armas eles estão usando?

– Os gaúchos só usam armas bio­ló­gi­cas – disse Maiara – Estão invadindo a Muralha com as mesmas táticas que usaram para tomar as porções do Mar Cerrado que cobriam, digamos, o Paraná. Shock and awe: pasto e soja.

– Se entendi direito os fanáticos neo­li­be­rais napal­mi­za­ram com pasto e soja todo o Mare Imbrium. Não existe mais.

– Certo – Ela indicou o ponto no o mapa. – O Mare Imbrium ou Mar das Chuvas aparece em alguns mapas que te mandei como Mar Cerrado. O bom­bar­deio de pasto e soja eliminou a vegetação nativa, que era espe­ci­a­li­zada em reter a água da chuva e abastecer os aquíferos em que mamam os rios.

– E com que consequências?

– A partir do centro o Mar das Chuvas ali­men­tava os rios do sul, do nordeste e de uma parte do norte. É simples: os rios e reser­va­tó­rios estão secando.

– É isso que não fecha – o italiano pôs-se de pé e passou a fazer o perímetro do terraço, como se caminhar o ajudasse a olhar de todos os ângulos o problema. – O cardeal Voto­ran­tim é um sujeito esperto. Ele não tem como não saber que a seca que atingiu o Sacro­con­do­mí­nio de São Paulo é só o começo das dores. Tendo em vista o que aconteceu com o Mare Imbrium, ele não teria motivo para ajudar os gaúchos a derrubar a Muralha… quem sabe com quais con­sequên­cias. Você é índia, jurou guardar a Muralha, sabe do que estou falando.

Ela olhou muito séria para dar a entender que sabia.

– Você teria razão, meu caro Massimo, se o cardeal tivesse de responder a alguém. A Sacra Igreja Neo­li­be­ral promove for­te­mente a separação entre Igreja e Estado, querendo dizer que os neo­li­be­rais conferem a si mesmos imunidade de qualquer res­pon­sa­bi­li­dade pública.

– Gaúchos e paulistas podem eliminar o Mar Cerrado e não têm de responder legal­mente por isso?

– Eles só estão pedindo que você respeite a sua fé – ela sentou-se e esvaziou o último copo de cai­pi­ri­nha. – E no caso do Mar das Chuvas tinham uma enorme vantagem estra­té­gica: o mar era sub­ter­râ­neo, invisível. O povo vê que a planura continua lá e acha que não se perdeu nada. Mesmo com a seca e a míngua dos rios, só vão fazer a conexão quando o cardeal já não estiver mais no poder. Mais uma das vantagens de não ter de responder a ninguém, muito menos ao futuro.

O italiano agachou-se ao lado da mulher e começou a espalhar sobre a sua esteira as foto­gra­fias que acom­pa­nha­vam a seção “A Muralha” do dossiê. As fotos alter­na­vam paraíso e inferno: matas exu­be­ran­tes e impe­ne­trá­veis ou espla­na­das cal­ci­na­das que evocavam Hiroshima. O homem não precisava de ajuda para entender quais eram as imagens mais recentes.

– Mas a Muralha é diferente, é muito visível – ele disse. – Veja essas fotos. Tem os vídeos no youtube. O des­flo­res­ta­mento e a invasão das terras indígenas eles não vão ter como esconder.

– Na capital eles tem um ditado – ela acariciou a barba dele. – “A sudoeste de Vazília, a civi­li­za­ção; a noroeste de Vazília, não há contravenção.”

– Contra a Muralha então todo jogo é limpo. Vale tudo.

– Obvi­a­mente foi para isso que Vazília foi cons­truída: não para puxar a civi­li­za­ção para o centro, mas para demarcar os limites da con­tra­ven­ção. Da boca para fora a Resi­dên­cia apoia os guardiões, mas ao mesmo tempo dá carta branca a gaúchos man­co­mu­na­dos com paulistanos.

– Querendo dizer que vocês índios vão ter de repelir sozinhos o ataque à Muralha.

– Não vamos resistir por muito tempo, Massimo. A Resi­dên­cia está cons­pi­rando esta semana de modo a acelerar a liberação de licenças ambientais.

– Que são licenças para destruir o ambiente, ao contrário do que se poderia concluir do nome. Ah, voi vasiliani.

– O governo prefere dizer, como os gaúchos urra­lis­tas, que está liberando o meio ambiente para ati­vi­da­des produtivas.

O italiano deixou-se sentar, derrotado, e ficou pro­cu­rando entre os copos cubos de gelo que pudesse mastigar. Em seguida fizeram amor por duas ou três horas sobre as esteiras, debaixo do sol da Guanabara e na altura do olhar dos vizinhos.

– Então é isso – Massimo disse depois, enquanto Maiara aper­fei­ço­ava os círculos dos pelos do peito dele, – você só queria me usar.

– Eu precisava de alguém de fora – ela confessou, sem paixão e sem culpa – de modo a reca­pi­tu­lar os fatos em benefício de alguém que estivesse se ligando na história neste momento. É só um recurso narrativo, nada pessoal.

– Maddona, é hora de mudar isso – o italiano pôs-se de pé ime­di­a­ta­mente e, muito a con­tra­gosto, começou a se vestir. – Esta história já tem coad­ju­van­tes demais. Você sabe o que disse Mazzini? Dio è Dio, e l’umanità è il suo Profeta. Se Garibaldi lutou as lutas do Brasil eu também posso. Eu também devo.

– Não sei se é um boa com­pa­ra­ção – a índia começou a recolher as esteiras e os copos, – tendo em vista que Garibaldi lutou a favor dos gaúchos.

O homem parou de se vestir por um momento para enfatizar o seu protesto:

– Naquela época os gaúchos lutavam contra o império. Agora eles são o império.

– E qual é o seu plano? – perguntou a índia. O italiano já estava calçando os sapatos e Maiara ainda não tinha começado a se vestir. Não tinha qualquer incli­na­ção de deixar-se resgatar pelo Grande Salvador Branco.

– Vocês são índios, vocês são con­tra­cul­tura, vocês andam nus – ele disse, tocando-lhe o braço como que para deixar-lhe uma divisa. – É impos­sí­vel que não tenham aliados: está na hora de forjar alianças.

– Temos mais do que isso – ela achou que era hora de revelar, e baixou a voz. – A carai­ba­gem tem herdeiros legítimos, Massimo. E dois deles estão aqui mesmo no Rio de Janeiro.

– Ma che cazzo stai –

Nessa hora um tiro atra­ves­sou o italiano.

– De novo – disse Maiara. Abaixando-se para desviar-se dos outros disparos, a índia arrastou o corpo inerte do homem para dentro da casa, e em seguida tomou-lhe o pulso para deter­mi­nar se ele era coad­ju­vante ou pro­ta­go­nista. Passados alguns segundos, Maiara não sabia dizer se estava aliviada ou não.

– Pro­ta­go­nista – ela disse.

continua…

fonte: http://www.baciadasalmas.com/pasto-e-soja/

Cineclube Terra Vermelha, Pipa, Abya Yala

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Cineclube sexta na praça! durante a Feira de Orânicos e Artesanais da Praia da Pipa

21 de agosto

18h Cumade Fulozinha 3

Produção caseira Pernambucana que resgata histórias da Mãe da Mata, protetora das Florestas. É amiga das avós, as ensinam a fumar, dão surra de urtiga naqueles que desmatam para o gado.

Estamos coletando histórias da Cumade para uma produção própria, venha contar a sua!

19:30 Tupinambá- O Retorno da Terra

Documentário que retrata a luta dxs indíxs Tupinambá na Serra do Padeiro, Bahia e seu processo de retomada de terras.

14 de agosto

18h Cumade Fulozinha 2

Produção caseira Pernambucana que resgata histórias da Mãe da Mata, protetora das Florestas. É amiga das avós, as ensinam a fumar, dão surra de urtiga naqueles que desmatam para o gado.

Estamos coletando histórias da Cumade para uma produção própria, venha contar a sua!

19:30 Belo Monte, Anúncio de uma guerra

Documentário que retrata a Amazônia hoje, suas lutas e guerreirxs

Olá imprensa natalense, sou a Revolta do Busão, prazer em conhecê-la

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Sabe aquele conhecido, do qual se tem pouca afinidade, que fingimos não ver quando o reencontramos em algum lugar? Sei que assim você nos vê, não há mal nisso, entretanto, a boa educação nos obriga a quando formos dizer algo sobre essa pessoa, na frente dela ou para outros, que a chamemos pelo nome, sei que ainda lembra do meu, mas insisto em me apresentar.Eu existo desde 2012, vocês mesmo já sabem, quando ainda me chamavam pelo nome. Vocês podem acessar o verbete “Protestos no Brasil em 2013” da Wikipedia, em Antecedentes, e verá que há o seguinte comentário sobre mim:

Em 27 de agosto de 2012 a prefeitura de Natal (RN) anunciou um aumento de R$0,20 na passagem de ônibus. Após o anúncio, houve uma série de manifestações organizadas pelo movimento social autodenominado “Revolta do Busão” (nas redes sociais: #RevoltadoBusão). A primeira manifestação ocorreu dois dias depois, reuniu cerca de duas mil pessoas e foi duramente reprimida pela polícia militar. No dia 30 de agosto de 2012 o protesto voltou com mais força, mas sem confrontos com a polícia militar. Com a pressão popular, no dia 6 de setembro de 2012 os vereadores revogaram o aumento da tarifa de ônibus.

Mas na verdade descendo do #ForaMicarla, que ocupou a Câmara municipal em 2011. Graças a mim a passagem em Natal ficou congelada por anos, fui o arquétipo dos protestos de junho de 2013 no Brasil. Nem é preciso alegar que o verbete carece de fontes, já que apenas nesse trecho está indexado seis links de notícias veiculadas por vocês próprios na época. Quando o verbete trata da importância do movimento para os protestos de junho de 2013 no Brasil há inúmeros outros.

Óbvio que há exceções na cobertura dos mais recentes atos, temos o exemplo da Mídia Infiltrada que transmite ao vivo os atos e conversa com as pessoas em seu Twitcast http://us.twitcasting.tv/tv_infiltrada. Além disso, não há melhor veículo para se empreender essa crítica do que na Carta Potiguar, logo, o incluo nessa lista, mas são aos grandes que me refiro. Faço uma ressalva ao Novo Jornal, que apesar do histórico de coberturas equivocadas em anos anteriores, e de não ser grande, foi o único veículo com alguma expressão a me chamar pelo nome. Apesar de consultar em sua reportagem apenas representantes de entidades estudantis, ignorando a maioria das pessoas que me compõem.

Ora, um jornalismo que apenas observa, não apura, não pode ser um bom jornalismo.  A cobertura jornalística de uma erupção vulcânica se faz com uma câmera e um repórter, com o fato jornalístico de paisagem ao fundo; mas não quando o fato envolve pessoas, não é gado, sabem falar, responder. Quem são? Do que se alimentam? Como vivem? Está tudo ali, ao alcance de uma pergunta.

Onde estavam que não entre nós quando o lamentável ‘’’’artefato””  foi atirado no carro da mulher , para constatar que tratou-se de um “traque” de São João, do tipo “pirulito” ou “peido de véia”, não a dinamite cercada de pregos apresentada pela polícia, cadê as imagens? Os relatos?

Esqueçamos isso, vamos começar de novo, me chamo Revolta do Busão, sou formado por uma maioria de estudantes universitários, composto por inúmeros grupos e subgrupos, os mais diversos que você possa imaginar, por isso, não há liderança entre nós, convencer a todos é muito difícil. Sim, há entidades partidárias, predominantemente a ANEL, UNE, JPT, que de fato quase sempre ganham as plenárias, muitas vezes por falta de bom senso das outras propostas formuladas, o que não significa que tenham total anuência perante os demais. Alguns estão ali para falar com vocês, muitos realmente acreditam na causa do transporte público, fazem política, antes na rua do que nos gabinetes. Mas ainda assim, eles não são a maioria.  Há anarquistas, todo um ramo de libertários, pintas, autônomos, mídia livristas, fotógrafos, e outras definições que não caberiam aqui.

Logo, você meu senhor, ou minha senhora, que acha melhor se indignar com a inflação, pode comparecer na assembleia e discutir porque acha que um movimento chamado Revolta do Busão, que defende a melhoria do transporte público há quase três anos, deve protestar contra a Petrobras, o preço da gasolina e o aumento da energia, se seu encaminhamento for aprovado pela maioria, será adotado. Infelizmente não aceitam sugestões pelo Facebook. Pode até ir com camisa da seleção.

Já você, cara imprensa, pode começar a nos chamar pelo nome, ou arcar com a qualidade do jornalismo que produz.

fonte: http://www.cartapotiguar.com.br/2015/07/28/ola-imprensa-natalense-sou-a-revolta-do-busao-prazer-em-conhece-la/

Mais infos Revolta do Busão http://revoltadobusaorn.blogspot.com.br/ + https://twitter.com/Revoltadobusao

Nos muros de Pipa, frases despertam reflexão

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No ano passado toda a população do vilarejo chocou-se com a quantidade de árvores tombadas para a vinda de mais um novo megacondomínio em Pipa. Eram quilômetros quadrados de coqueiros, cajueiros, mangabas, mangueiras e algumas árvores nativas que davam frutos abundantes para toda a região. Um ano depois, com os requintes cruéis de usar os coqueiros para outdoors do futuro emprendimento em Photoshop e colocar a frase “Quanto vale o seu sonho?” o local virou mais um elefante branco de Pipa. As frases que apareceram na manhã de hoje são mais do que bem-vindas e fazem refletir sobre o passado, presente e futuro que queremos aqui!

especulação mata

morreram para servir de outdoor

 

 

 

 

 

decrescimento ou barbárie

grafiti na pipa

quanto vale o seu sonho?

Roda de capoeira angola na praia da pipa – Venha comemorar!

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