Conheci Mombaça, artista de Natal, através do sitio português Buala em um artigo chamado A coisa tá branca! (1.), em que colocava sua posição de sujeito decolonial frente a espaços estabelecidos como galerias e o campo das artes como um todo. Me impressionou muito sua sutilidade des&reconstrutiva em apresentar fissuras e colocar sua assimetria como princípio mesmo de constituição do mundo. Depois vi alguns videos de performances e falas, como este que deixo aqui
que me inspiram a continuar com esse trabalho de revelar as raízes potyguaras da resistência.
Hoje me bateu a vontade de falar de nosso meio-ambiente nada doce. Começo no início da involução ou desenvolvimento histórico de nossa cara praia de Pipa. Recordo as cacimbas de água doce que existiam nas praias de Tibau do Sul. Alguns falam em oito ou nove somente em Pipa. Era lá que os nativos colhiam a água para beber, fazer sua comida e lavar o sal da pele. E foi nesta época que ocorreu a primeira interação entre nativos e estrangeiros. Alguém trocou uma prancha de surf por um lote de terra para construir um chalé e aí começou a simbólica corrida pelo desmatamento da nossa outrora mata atlântica. Furamos o solo da argila que encobre a camada de areia, meia salgada, na busca de mais água e para enterrar nossos excrementos humanos em fossas jamais sépticas. E veio a caixa de gordura nada séptica para alimentar as baratas urbanas (ainda temos a barata cascuda da mata com outros hábitos).
Ocupamos a beira das falésias sob as quais avança o mar num ritmo veloz, ano a ano, inexoravelmente. A imagem do são Sebastião no mar próximo à praia do centro, já quase afogada nos faz recordar da pracinha, das casas com plantações de macaxeira e bananas que existiam onde hoje o mar se quebra na maré baixa. A argila das falésias, amontoada e enegrecida pelo sal cobriu tudo e parecem arrecifes. Morava-se onde hoje repousam as lanchas de turismo para ver nossa atração maior, os golfinhos. Paraiso onde os golfinhos visitados em Miami, ainda restam na outrora praia dos currais. E foi então que se deu o nome de ‘praia das minas’, para onde escoriam as águas de minas de água doce que brotavam das enormes dunas que a circundam. Ali mesmo onde passou a se chamar de Yahoo, bar fundado por um jovem e alegre alemão. Tempos nostálgicos dos nórdicos que nos deixaram o menino galego de olhos azuis, novo herói do surf local que já é reconhecido no Bali.
Lá se vão trinta anos plantando antiguidade à praia do centro. Agora ficou proibida a análise de suas águas como praia poluída e imprópria ao banho. E como anátema, o IDEMA só analisa outras praias, mas jornais de São Paulo a inclui na longa lista das proibidas. As cacimbas nascem salgadas, o mar já comeu parte do velho cemitério dos nativos e levou embora as antigas escadas de madeira. A água dos poços artesianos, da segunda camada do lençol freático, já está contaminada pelos nossos coliformes fecais e haja cloro para limpá-las. Já passamos para a terceira camada buscando água a 250 metros de profundidade. Só no ano passado este lençol doce desceu 5 metros nos bairros mais distantes. Nosso primeiro depósito de esgoto, escondido atrás de igrejinha católica, já recebe as águas da maré cheia e mais 15 anos estará afogada como a estátua de são Cristóvão. E, ainda não temos chuveiros públicos e muitos visitantes defecam atrás de uma onda. Alguns troços mais secos navegam nas piscinas naturais. Outros, mais pesados se misturam nas areias. E nem falo no mijo.
O censo agropecuário dos anos 70 dava como principal produto local a lenha. Mas ela continua junto com as jovens varas de árvores a alimentar os fornos das deliciosas pizzas italianas e suas similares. O desmatamento já bateu nas margens da Mata de Pipa, a ser preservada, onde eu moro a 5 anos. Já não vejo os roceiros passarem. Mas ouço o barulho das marés altas e os tombos das árvores altaneiras que as dunas não mais seguram. A mata escasseia por si. Morrem as raízes que alimentavam de água o lençol freático. O milho plantado e replantado, este ano não dará nada. O feijão de corda já se colhe bichado, clamando pelos agrotóxicos, ainda não usados. Os próprios cultivadores das roças, que os via às dezenas passando sob meu olhar madrugadeiro, já escasseiam. Restam poucos nativos que amam a terra. Idosos sentem as pernas fracas e reclamam dos filhos que não veem mais às roças. E a macaxeira acaba sendo vendida para alimentar gado e porcos, pois fica dura e não derrete na boca. A macaxeira que compramos vem da Paraíba, de grandes plantios regados. As alfaces estão vindo das plantações da Vitória da Conquista, já na divisa da Bahia com Minas. E os nativos, barrados pela Mata da Pipa, estão vendendo o que resta, bem roçado e limpo como gostam os novos moradores. Vai faltar caju e já importamos castanhas do Ceará, algumas tipo exportação, outras pelo menos vistosas, mas há as quebradas e lascadas que meus dentes idosos não mastigam.
Enfim o ciclo da nossa efêmera ecologia-cultural se esvai, pois esqueceu de sustentar os costumes passados. Se torna uma ideologia e como todas elas uma ‘falsa consciência’, uma ‘religião’ que busca preservar velhas imagens. Só os estrangeiros visitam nossa feira orgânica espremida na praça do Pescador. E o orgânico veem do paú, do catú, da Vila Flor (primeira cidade do RN), plantada pelos históricos holandeses que abrigavam sua pólvora na lagoa de Guarairas, onde se contempla o pôr do sol refletido nas areias do assoreamento. São 30 anos que se somam aos 300 de Nassau, como um rastilho de pólvora que queima o meio e os arredores do ambiente. E se reflete na nostalgia da minha mente que perde a esperança de ser conservacionista. Em breve ficarei também nas saudades que podem brotar entre os muitos afazeres.
extraido do face
https://www.facebook.com/groups/kesaber/permalink/1024042227696218/
5 gerações passadas. tataravôs herdeirxs. na ilha Guanahaní, hoje Bahamas, desembarcam os três navios de cristovão colombo patrocinados pela monarquia dos reis católicos da espanha. é o início da devastadora invasão européia no continente de abya yala, pachamama, mãe terra, quantos nomes haveriam! o “descobrimento” da américa foi a invenção de um povo único onde co:existiam sistemas cooperativos de apoio mútuo, rituais de cura, de controle da violência, de manejo sustentável de suas vidas, conhecimento sobre complexos sistemas de habitação e alimentação, valorização da oralidade, a excelência dos mais velhos, respeito à muitas espécies de vida. 12 mil anos de tradições únicas e insubistituíveis sobre seu entorno, seus corpos, natureza e modos de vida.
pensar nisso 523 anos depois, em meio aos destroços da bucanagem, é caminhar para a descolonialidade de nossos povos Americanos. re:escrevendo a história com subcalendários que contam as estratégias de sobrevivência e de resistência destes povos des-locados, as rebeliões que protagonizamos, todxs misturados, da cabanagem, revolução paulista de 24, guerra dos mascates, revolução dos alfaiates, revolução pernambucana, sabinada, balaiada, guerra dos farrapos, insurreição praiera, guerra do paraguai, revolução federalista de 1893 a 1895, canudos, revolta da vacina, revolta da chibata, guerra do contestado, revolução de juazeiro, revolta dos tenentes, cangaço, revolução do rio grande do sul, revolução sul rio grandense, revolução paulista de 1924, revolução de 1930, revolução de 1932, golpe militar de 1964, guerrilha do araguaia e quilombos, assim como as consequentes tragédias de tracunhaém, cunhaú, candelária, eldorado, camarazal, o genocídio atual dos guarani-kaiowá, disputas por território que até hoje nos afetam.
há alguns anos o povo Aymara declarou o dia 12 de Outubro como “dia da desgraça”. outros povos indígenas confirmam este sentimento, declarando que o colonialismo não acabou com as mais do que legítimas aspirações à livre determinação dos povos d/neste continente, alguns deles milenares e com uma civilização e cultura cósmica. e assim, de 12 a 16 de outubro se dá a Mobilização global em Defesa da Mãe Terra e dos Povos que procura a pluralidade através da oferta de uma alternativa de vida frente à civilização da morte, com princípios e práticas de equilíbrio entre os homens, as mulheres, Mãe Terra, espiritualidades, culturas e povos, denominada de Bom Viver / Viver Bem.
aqui no Brasil o 12 de outubro transmutou-se radicalmente em dia das crianças, feriado nacional, com uma publicidade capitalista incessante destinada às futuras gerações: seu brinquedo em 10 vezes sem juros, ruidosos televisores como babás (o brasil é o único país no mundo onde suas crianças assistem mais de 4 horas diárias de Tv), brotando radiação e tendinite. é também dia santificado, em homenagem à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil (além do dia do cirurgião pediátrico). no entanto, em muitos países da América além de formalmente ser o dia da Hispanidade – México, Guatemala, El Salvador, Nicaragua, Honduras, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, Cuba, República Dominicana, Colômbia, Venezuela, Equador, Chile, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e Guiné Equatorial – nas ruas de todo o continente adquire nomes como Dia da Invasão, Dia da Raça ou Dia do encontro dos dois mundos, e quando a rotina é irrompida por protestos contra o início do genocídio. diversas manifestações marcam a cada ano um novo ciclo de lutas. e mesmo assim, por séculos, prevalece a visão dos vencedores e a justificação da ocupação e submissão das populações nativas sob o nome “civilizatório”.
por tudo isso é que a data de 12 de Outubro deve ser um dia para recordar sobretudo a resistência indígena, a sua luta pelo reconhecimento de suas identidades e formas de vida, sua autodeterminação e sua luta para a retomada de seus territórios e subjetividades. da selva lacandona às margens do rio são francisco. a cultura consumista não é brasileira, foi importada à chibatadas e acordos brancos. mas hoje, dia 12, em todo o continente americano, xs índixs levantam a sua voz para tomar nas suas mãos a história. solidariedade com todos os povos deste continente, que há 523 anos, cotidianamente, sofrem violações de todo o tipo, físicas e culturais. que toda a tragédia por que passaram e passam fortaleça ainda mais a mémória de todas xs índixs exterminadxs. /somos todxs índixs.
* “A contratiempo (Carabelas de Colón)”con letra de Agustín García Calvo y música de Chicho Sánchez Ferlosio. Su tema es el descubrimiento de América, y se dirige a las carabelas de Colón, animándolas a que vuelvan hacia atrás, a que desanden el camino andado y a que dejen América sin descubrir y el mundo nuevo, que de nuevo no va a tener nada una vez descubierto.
Carabelas de Colón,
Todavía estáis a tiempo:
Antes que el día os coja,
Virad en redondo presto,
Tirad de escotas y velas,
Pegadle al timón un vuelco,
Y de cara a la mañana
Desandad el derrotero,
Atrás, a contratiempo.
Mirad que ya os lo aviso,
Mirad que os lo prevengo,
Que vais a dar con un mundo
Que se llama el Mundo Nuevo,
Que va a hacer redondo el mundo,
Como manda Ptolomeo
Para que girando siga
Desde lo mismo a lo mesmo.
Atrás, a contratiempo!
Por delante de la costa
Cuelga un muro de silencio:
Si lo rompéis, chocaréis
Con terremotos de hierro
Agua irisada de grasas
Y rompeolas de huesos;
De fruta de cabecitas
Veréis los árboles llenos,
Atrás, a contratiempo!
¡A orza, a orza, palomas!
Huid a vela y a remo:
El mundo que vais a hacer,
Más os valiera no verlo,
Hay montes de cartón-piedra
Ríos calientes de sebo,
Arañas de veinte codos,
Sierpes que vomitan fuego.
Atrás, a contratiempo!
Llueve azufre y llueve tinta
Sobre selvas de cemento;
Chillan colgados en jaulas
Crías de monos sin pelo, Pelo;
Los indios pata-de-goma
Vistiendo chapa de acero,
Por caminos de betún
Ruedan rápidos y serios.
Atrás, a contratiempo!
Por las calles trepidantes
Ruge el león del desierto;
Por bóvedas de luz blanca
Revuelan pájaros ciegos Ciegos;
Hay un plátano gigante
En medio del cementerio,
Que echa por hojas papeles
Marcados de cifra y sello.
Atrás, a contratiempo!
Sobre pirámides rotas
Alzan altares de hielo,
Y adoran un dios de plomo
De dientes de oro negros, Negros;
Con sacrificios humanos
Aplacan al Dios del Miedo
Corazoncitos azules
Sacan vivos de los pechos.
Atrás a contratiempo!
Trazan a tiros los barrios,
A escuadra parten los pueblos;
Se juntan para estar solos,
Se mueven para estar quietos, Quietos;
Al avanzar a la muerte
Allí lo llaman progreso;
Por túneles y cañones
Sopla enloquecido el Tiempo.
Atrás, a contratiempo!
Por eso, carabelitas
Oíd, si podéis, consejo:
No hagáis historia; que sólo
Lo que está escrito está hecho, Hecho
Con rumbo al sol que os nace,
Id el mapa recogiendo;
Por el Mar de los Sargazos
Tornad a Palos, el puerto,
Atrás, a contratiempo!
Monjitas arrepentidas,
Entrad en el astillero;
Os desguacen armadores,
Os coman salitre y muergos, Muergos,
Dormid de velas caídas
Al son de los salineros
Y un día, de peregrinas,
Id a la sierra subiendo,
Atrás, a contratiempo
Volved en Sierra de Gata
A crecer pinos y abetos,
Criar hojas y resina
Y hacerles burla a los vientos,Vientos,
Allí el aire huele a vida;
Se siente rodar el cielo;
Y en las noches de verano
Se oyen suspiros y besos.
Nosso povo foi levado a se envolver neste genocídio. Deste então, pagamos por isso. Mas haverá o dia da Memória Ancestral, aonde todos aquelxs mortxs nessa guerra que chamam “civilizatória” poderão simplesmente voltar a colher os frutos da Terra-mãe, da vida, não mais a morte.
Aos milhares de nativxs assassinadxs, ontem e hoje, e que não têm lembrança neste dia.
Segundo a Wikipedia, a Igreja Católica e praticamente toda Mídia Brasileira:
Mártires de Cunhaú e Uruaçu é o título dado aos 30 cristãos martirizados, no interior do Rio Grande do Norte. Foram vitimas de dois morticínios, ambos no ano de 1645, no contexto das invasões holandesas no Brasil. O primeiro na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho de Cunhaú, município de Canguaretama; outro em Uruaçu, comunidade do município de São Gonçalo do Amarante.
Morticínio de Cunhaú
O primeiro engenho construído no Rio Grande do Norte foi palco de uma grande chacina, uma das mais trágicas da história do Brasil. No ano de 1645, o estado do Rio Grande (católico) era dominado pelos holandeses (calvinistas).
Jacob Rabbi, um judeu-alemão a serviço do governo holandês, chegou a Cunhaú no dia 15 de julho de 1645, mas já era conhecido pelos moradores, pois havia passado por lá anteriormente, sempre escoltado pelas tropas dos índios Tapuias e deixando ódio e destruição por todos os lugares pelos quais passava.
Nesse dia veio com mais força. Além dos Tapuias, trazia alguns potiguares e soldados holandeses. Era Domingo, dia 16 de julho de 1645, como de costume os fiéis reuniram-se para celebrar a Eucaristia, foram à missa na Igreja de Nossa Senhora das Candeias, mas Jacob Rabbi havia fixado um edital na porta da igreja: após a missa, haveria ordens do governo holandês. O pároco, Padre André de Soveral, começa a missa e depois do momento da elevação do Corpo e Sangue de Cristo, as portas da Capela foram fechadas, e deu-se início às cenas de violência, intolerância e atrocidade. Ao verem que iriam ser mortos pelas tropas, os fiéis não reagiram, ao contrário, “entre mortais ânsias, confessaram-se ao sumo sacerdote Jesus Cristo, pedindo-lhe, com grande contrição, perdão por suas culpas”, enquanto o Padre André estava ‘exortando-os a bem morrer, rezando apressadamente o ofício da agonia”.
Morticínio de Uruaçu
Em 03 de Outubro de 1645, três meses depois do massacre de Cunhaú, aconteceu outro desta vez em Uruaçú, este também a mando de Jacob Rabbi.
Dizem os Cronistas que, logo após o primeiro massacre, o medo se espalhou pela Capitania e por outras capitanias, a população ficou receosa, pois, tinha medo que novos ataques acontecessem, o que não demorou muito. Foram cenas idênticas, apesar que neste massacre as tropas usaram mais crueldade. Depois da elevação, fecharam as portas da igreja e os mataram ferozmente, arrancaram suas línguas para não proferirem orações católicas, braços e pernas foram decepados, crianças foram partidas ao meio e grande parte dos corpos foram degolados. O Celebrante, Padre Ambrósio Francisco Ferro mesmo vivo foi muito torturado. O camponês Mateus Moreira, mesmo arrancando seu coração, exclamou: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Beatificação
O começo do processo de Beatificação foi aberto em 15 de maio de 1988, por Dom Alair Vilar, nesta ocasião, o Arcebispo nomeou o Monsenhor Francisco de Assis Pereira, como postulador das causas de Beatificação e Canonização. No dia 05 de março de 2000, na presença de cerca de mil brasileiros na praça de São Pedro, o Papa João Paulo II, Beatificou 28 leigos e 2 sacerdotes.
Monumento aos Mártires em São Gonçalo do Amarante
Atualmente, os mártires são lembrados em duas datas, no dia 16 de julho em Canguaretama, e dia 3 de outubro em São Gonçalo do Amarante. Esta última data é lembrada a caráter estadual: pela lei Nº 8.913/2006 que declara feriado estadual a data.
São lugares de romarias e peregrinações a Capela dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu em São Gonçalo do Amarante; o Santuário dos Mártires, no bairro Nossa Senhora de Nazaré em Natal, e a capela de Nossa Senhora das Candeias no antigo engenho de Cunhaú.